Sobre Colette - como tudo começou

Era noite alta.
Íamos, como de costume, pela Kalil Karan rumo a  uma cerveja.Sempre  pelo mesmo caminho, de propósito, para poder ver os gatos que circulam por ali.
Já fazia umas semanas que que a nossa querida Iracema-lábios de mel havia morrido, vítima de um atropelamento seguido de negligência humana.Mas isso é outra história.
(Ainda temos uma desconfiança que Colette e Iracema tinham quase que o mesmo DNA)
Na Kalil Karan tem vários gatos.Todos famintos e alguns bem ariscos.
Mas isso não é empecilho pra quem quer ajudar.
Eis que avistamos uma gata em cima do telhado de uma casa, amamentando uma ninhada.
De pelagem predominantemente branca com "máscaras" e cauda  pretas e outras poucas manchas da mesma cor pelo corpo.
Mal olhamos para ela e já recebemos o tradicional "chega pra lá" de gato: uma baforada de boca beeem aberta - típico de mãe zelosa ou de gato medroso. 
Um passo para trás e fomos embora...
Mas decidimos, então, encaminhar a ela e seus filhotes a ração comprada para a falecida Iracema.
E assim começamos a nova empreitada.
Todas as noites íamos, mais ou menos no mesmo horário, sozinhos ou acompanhados, levar a "comidinha" deles.
Mas a ninhadinha desapareceu "misteriosamente" e, dos filhotes, só sobrou uma femeazinha muito bonita e graciosa.Mal dobrávamos a esquina e a filhota já vinha correndo e miando.Mas essa pequena também desapareceu "misteriosamente".É sempre uma dor não encontrar esses pequenos.
A gente fica indignado com a perversidade humana e a cada dia que se vai, temos a certeza de que o caminho mais seguro neste momento é a posse responsável.
Se o Estado começar a educar o cidadão desde cedo sobre o respeito para com os animais, chegará um momento em que essas criaturinhas não serão mais hostilizadas; descartadas e ignoradas.
Mas voltemos à Colette.
Nosso contato com a Colette foi uma espécie de trabalho de formiga.Todas as noites íamos até o mesmo local e levávamos a ração.E ela passou a confiar nesse gesto.Bem à distância.
A gente ficava de cócoras e de costas.Aos poucos a gente se aproximava meio metro; mais meio metro e mais meio metro.
Até que um dia estendemos a mão para ela sentir o cheiro.E ela veio.
Ganhar a confiança de um gato é mágico!!!
De gata arisca, Colette passou a ser a amiga do bairro.
Aprendeu o caminho da nossa casa e vinha nos chamar para o jantar.
Nos seguia pelas ruas.E por isso ganhou esse nome; para fazer um trocadilho com o hábito de grudar na gente.
Colette teve ceia de Natal e Reveillon especiais!!!Assim como todos os nossos gatos!
Ela pedia para entrar na nossa casa...
Mas quando você tem 7 gatos em casa, fica difícil abrir a porta para mais um... e mantivemos nossa relação com Colette dessa maneira: da porta da rua pra fora.
Colette era tão meiga e querida que até nossas visitas se encantavam por ela.
E não somente uma, mas várias vezes, o Quinho(nosso mais ilustre visitante paulistano) se prontificou a levar a comidinha da nossa protegida.
Ela vinha correndo!!
E fazia questão de agradecer antes cada pote de ração que recebeu.Agradecia com muitos ronrons, miados e esfregões pelas canelas . 
Mas, como era de se esperar, Colette engravidou...
E conforme a barriguinha cresceu nossa angústia em pensar nas condições dela parir , na rua,foram se instalando e não dava pra negar a ela uma chance de ser feliz e estar segura.
Por isso decidimos, em comum acordo, trazer a doce gravidinha para dentro da nossa casa.
Nossas intenções eram , simplesmente, encaminhar a "Família Colette" para a doção responsável e eliminar o risco das ruas para essa gata e seus filhotes.
Considerando que ela era extremamente dócil, não seria difícil adaptá-la a uma vida "indoor"; uma vez que ela mesma, em todos os seus gestos e comportamento, sinalizou que gostaria de ter uma família.
Infelizmente ela não teve tempo de desfrutar as delícias de ter uma família humana que a respeitasse e amasse como ela merecia.
Colette teve tempo de dar à luz seus filhotes.Infelizmente, houve uma perda.Um dos filhotes não conseguiu o bendito "sopro da vida".
Colette pariu,comeu e bebeu água com todas as suas forças.
Cada minuto que teve entre as mamadas com o colostro que, graças à Mãe Natureza, ela pôde dar a seus filhotes, ela se dedicou a comer e a tomar água fresquinha.
Mas isso lhe custou uma torção gástrica e, devido à delicadeza da cirurgia, ela não sobreviveu.
Levou com ela nosso afeto.
Deixou seus filhos, para que a gente cumpra a promessa de não negligenciar a quem nos bate à porta;
mas também deixou uma frustração enorme por não ter conseguido colocá-la num colo amoroso e num lugar protegido.
Com  o tempo, a frustração vai virar saudade.
Assim espero.

Luciana.



2 comentários:

  1. Em tempo: Iracema era uma das gatas que vivia na Kalil Karan.Deu à luz alguns filhotes que foram encaminhados à adoção.Iracema tinha acesso à rua e passava o dia pelas calçadas ou dentro dos jardins das casas.Foi atropelada por um taxi,enfiou-se embaixo da casa da senhora que dizia ser sua "dona" elá permaneceu até morrer, sem socorro.Isso são informações de vizinhos.

    ResponderExcluir
  2. Gato não tem nove; muito menos sete vidas.Cada um desses gatinhos tinha uma vidinha só. Infelizmente não conseguimos zelar por essas vidinhas como gostaríamos...
    Luciana

    ResponderExcluir